Introdução
Tá na dúvida se perdeu o controle sobre o uso de cocaína? Pois é, muita gente passa por isso.
Essa questão geralmente aparece quando notamos mudanças no nosso jeito de agir ou quando alguém que gosta da gente demonstra preocupação.
E mesmo assim, nem sempre é fácil perceber quando o uso casual virou um problema sério.
O vício em cocaína acontece quando nosso cérebro se acostuma com a droga.
A cocaína age diretamente no sistema de prazer do cérebro, soltando muita dopamina – aquele hormônio que nos faz sentir bem.
Com o tempo, o cérebro para de produzir dopamina sozinho, e a pessoa passa a precisar da droga pra sentir prazer ou até mesmo pra funcionar no dia a dia.
Olha só esse dado: cerca de 18 milhões de pessoas no mundo todo sofrem com o vício em cocaína.
Entre as pessoas que experimentam, 5% a 6% acabam ficando com dependência química.
Na real, a cocaína é uma das drogas que mais viciam por aí, perdendo apenas pra heroína e metanfetamina.
De acordo com RIBEIRO, M. et al. Abuso e dependência de cocaína. Revista da Associação Médica Brasileira, v. 58, p. 141-153, 2012. Disponível em: https://bestpractice.bmj.com/topics/pt-br, o vício pode se desenvolver bem rápido, e muitas pessoas nem percebem os primeiros sinais até que já estão completamente dependentes.
Afinal, entender os sinais do vício é o primeiro passo pra buscar ajuda. E sabe o que é mais interessante?
Quanto mais cedo você notar os sintomas, maiores são as chances de se recuperar por completo.
Como identificar o vício em cocaína?
Mudanças no corpo que são sinais de alerta
Quando a cocaína começa a tomar conta da vida de alguém, o corpo é quase sempre o primeiro a dar sinais.
Eu tenho visto isso em muitos casos – o corpo grita por socorro antes mesmo da pessoa admitir que tem um problema.
Sabe o que acontece bastante? As pupilas ficam dilatadas o tempo todo.
Os olhos ficam com aquelas “bolotas” pretas bem grandes, mesmo quando tem muita luz. Junto com isso vem aquela agitação – a pessoa não consegue ficar parada.
Tá sempre balançando as pernas, batendo os dedos, andando de um lado pro outro sem necessidade.
Muita gente também emagrece de repente. Isso acontece porque a cocaína tira a fome, e no corre-corre do vício, a pessoa nem lembra de comer direito.
Aí aparecem aquelas olheiras fundas, resultado de noites mal dormidas.
O nariz sofre pra caramba, já que é o caminho mais comum da droga. Sangramento nasal direto, coriza que não passa, e com o tempo até danos no septo nasal podem aparecer.
E aquela energia que vai e vem? Uma hora a pessoa tá acelerada, tagarelando sem parar, cheia de ideias.
De repente, cai num cansaço profundo, fica irritada, triste. Essa montanha-russa de energia é típica de quem usa cocaína.
Segundo OLIVEIRA, L. G. et al. Neuropsychological effects of cocaine use. Revista de Psiquiatria Clínica, v. 36, p. 78-83, 2009. Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt/casa/assuntos-especiais/entorpecentes-e-intoxicantes/cocaína, esses efeitos no corpo acontecem por causa da ação da cocaína no coração e no cérebro, e podem piorar com o uso contínuo.
Mudanças de comportamento que mostram dependência
Além das mudanças no corpo, o vício em cocaína traz um monte de alterações no comportamento que afetam a vida social e o trabalho.
Um dos sinais mais claros é quando a pessoa fica obcecada com a droga – tudo começa a girar em torno de conseguir e usar cocaína.
Tenho notado ao longo dos anos que o isolamento social quase sempre acontece. A pessoa vai abandonando atividades que antes adorava.
Aquele futebol com a galera? Largado. O cineminha do fim de semana? Sem interesse. Aos poucos, as relações que não têm a ver com a droga vão ficando de lado.
E cê sabe o que é curioso? O desempenho no trabalho ou nos estudos costuma cair, mesmo quando a pessoa tenta esconder o vício.
Aquele funcionário nota dez começa a faltar, a entregar trabalhos pela metade, a furar prazos.
Os problemas de dinheiro são outro sinal forte. A cocaína é cara pra caramba, e manter o vício exige muita grana.
Aí começa aquela história de sempre pedir emprestado, vender as próprias coisas, e nos casos mais graves, até se meter em roubos pra manter o consumo.
O vício também aparece nas mudanças de humor – irritação extrema, agressividade, paranoia, ansiedade forte. Como aponta SILVA, P. A. et al. Cocaine-related disorders: clinical and psychosocial aspects. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, v. 67, p. 25-31, 2018. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Dependência_de_cocaína, esse quadro psicológico pode piorar com o uso prolongado.
Tolerância e abstinência: os dois lados do vício
Como seu corpo pede mais cocaína
Um dos sinais mais claros do vício é quando a mesma quantidade de cocaína já não bate como antes.
Isso acontece porque o cérebro cria tolerância à droga – precisa de doses cada vez maiores pra sentir o mesmo barato.
Confesso que muitos pacientes só caem na real quando percebem essa escalada no consumo.
E essa tolerância não chega de uma hora pra outra, tá?
Ela vai se instalando devagarinho, quase sem a gente notar. No começo, uma quantia pequena já dava aquela sensação forte.
Depois, você começa a usar um pouco mais, e mais, até que percebe que tá usando doses que nem imaginava no começo.
Por outro lado, quando fica algumas horas sem usar, aparecem os sintomas de abstinência. E olha, não é nada legal. Bate aquele cansaço pesado, parece que foi atropelado.
Junto vem uma fome descontrolada – o corpo tentando recuperar todas aquelas refeições que foram puladas durante o uso.
O sono também fica uma bagunça.
Uns não conseguem dormir de jeito nenhum, outros dormem demais, mas acordam se sentindo acabados. E tem a parte da cabeça: depressão, ansiedade, irritação extrema, dificuldade de concentração.
De acordo com MARQUES, A. C. et al. Cocaine abuse: neurobiology, diagnosis and therapeutics. Revista Brasileira de Psiquiatria, v. 29, p. 220-228, 2007. Disponível em: https://bestpractice.bmj.com/topics/pt-br, esse ciclo de tolerância e abstinência é o que torna o vício em cocaína tão difícil de superar sem ajuda profissional.
Negação e desculpas: barreiras para reconhecer o vício
Um dos aspectos mais complicados do vício em cocaína é a negação – aquela voz dentro da cabeça que insiste: “Consigo parar quando quiser” ou “Só uso nas baladas, não sou viciado”.
Na real, essa negação faz parte do próprio mecanismo do vício, funcionando como uma armadura que permite que o uso continue.
E mesmo assim, muita gente cria um monte de desculpas. “Só uso pra aguentar a pressão do trabalho”, “Cocaína não vicia tanto quanto heroína”, “Conheço gente que usa muito mais que eu e tá numa boa”.
Essas justificativas servem pra acalmar aquela voz dentro da gente que diz que tem algo errado.
Talvez o mais difícil da negação seja quando ela é reforçada pelos amigos que também usam drogas.
Quando todo mundo ao seu redor acha normal, fica muito mais difícil perceber que você já passou dos limites.
Um estudo feito por SANTOS, C. R. et al. Psychological mechanisms in addiction: denial and defense mechanisms in cocaine users. Estudos de Psicologia, v. 32, p. 173-184, 2015. Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt/casa/assuntos-especiais/entorpecentes-e-intoxicantes/cocaína, mostrou que mais de 70% dos viciados em cocaína passam por um longo período de negação antes de buscar tratamento.
Consequências do vício em cocaína que você não pode ignorar
Cê já parou pra pensar no estrago que a cocaína faz no seu corpo a longo prazo?
Não tô falando só daquele sangramento no nariz ou da insônia depois de uma noite de uso. Tô falando de danos permanentes que podem mudar sua vida pra sempre.
O coração sofre pra caramba. A cocaína aumenta muito o risco de ataques cardíacos, mesmo em pessoas jovens sem problemas no coração.
O aumento da pressão, dos batimentos cardíacos e o estreitamento dos vasos podem causar danos permanentes no músculo do coração.
O cérebro também sofre. Derrames, convulsões e até danos cerebrais permanentes podem acontecer.
Já vi pacientes que desenvolveram problemas de movimento, de memória e raciocínio que continuaram mesmo depois de anos sem usar a droga.
E vamos falar da saúde mental? A cocaína pode desencadear ou piorar quadros de depressão, ansiedade, transtorno bipolar e até psicose.
Na parte social, o estrago é grande também. Relacionamentos destruídos, empregos perdidos, chances desperdiçadas, problemas com a lei – a lista é grande.
E aqui vai um dado que pouca gente conhece: segundo FERREIRA, P. E. M. et al. Long-term consequences of cocaine use. Archives of Clinical Psychiatry, v. 38, p. 145-153, 2011. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Dependência_de_cocaína, mesmo depois de anos sem usar, ex-usuários de cocaína têm mais risco de recaídas em situações de muito estresse devido às alterações permanentes que a droga causa no cérebro.
Teste: estou viciado em cocaína?
Perguntas pra responder com sinceridade
Na minha experiência com pacientes, notei que muita gente consegue reconhecer o vício quando é confrontada com as perguntas certas.
Aqui vai uma lista que pode te ajudar a refletir sobre sua relação com a cocaína. E olha, seja sincero ao responder – não adianta mentir pra você mesmo.
- Você já tentou diminuir ou parar de usar cocaína, mas não conseguiu?
- Sente uma vontade forte ou compulsão pra usar cocaína, mesmo quando não quer?
- Gasta muito tempo conseguindo a droga, usando ela ou se recuperando dos efeitos?
- Já abandonou atividades sociais, trabalho ou lazer por causa do uso?
- Continua usando mesmo percebendo problemas físicos ou psicológicos que pioram com o uso?
- Precisa de quantidades cada vez maiores pra sentir o mesmo efeito?
- Sente sintomas ruins quando fica sem usar?
- O uso de cocaína está atrapalhando suas responsabilidades no trabalho, estudo ou em casa?
Se você respondeu “sim” pra três ou mais dessas perguntas, provavelmente já existe um quadro de dependência. Mas calma! Reconhecer o problema é o primeiro e mais importante passo pra recuperação.
Aliás, durante as avaliações com pacientes, uso critérios parecidos com esses, baseados na Classificação Internacional de Doenças (CID-10) e no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5).
De acordo com OLIVEIRA, R. F. et al. Diagnostic criteria for substance use disorders: update and clinical implications. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, v. 12, p. 116-123, 2016. Disponível em: https://bestpractice.bmj.com/topics/pt-br, quanto mais cedo o vício é identificado e tratado, melhores são os resultados a longo prazo.
Tratamento do vício em cocaína: por onde começar?
Opções de tratamento que funcionam de verdade
Quando falamos de tratamento pra dependência de cocaína, não existe uma fórmula mágica que funcione pra todo mundo.
Na real, o caminho da recuperação é muito pessoal e precisa ser adaptado pra cada um. Dito isso, existem algumas abordagens que têm mostrado bons resultados.
A desintoxicação é geralmente o primeiro passo e pode acontecer em casa com acompanhamento ou internado, dependendo de quão grave é o caso.
É aquela fase inicial em que o corpo se livra da droga e passa pelos sintomas de abstinência.
Depois vem o tratamento psicológico, que pra mim é a parte mais importante do processo. A terapia cognitivo-comportamental tem funcionado muito bem pra dependência de cocaína.
Ela ajuda a identificar gatilhos, desenvolver estratégias pra lidar com a vontade de usar e mudar padrões de pensamento que levam ao uso.
Os grupos de apoio também ajudam muito. Narcóticos Anônimos (NA) e outros grupos parecidos oferecem um ambiente de compreensão e apoio mútuo que é difícil de encontrar em outros lugares.
Em alguns casos, remédios podem ser receitados pra ajudar a controlar a fissura, tratar sintomas de abstinência ou condições psiquiátricas junto com o vício.
E por último, mas não menos importante, vem a prevenção de recaídas.
É aquela fase de manutenção, onde você aprende a viver sem a droga e a lidar com situações de risco.
Conforme mostrado por COSTA, J. B. et al. Treatment approaches for cocaine dependence: a systematic review. Brazilian Journal of Psychiatry, v. 41, p. 82-91, 2019. Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt/casa/assuntos-especiais/entorpecentes-e-intoxicantes/cocaína, a combinação de diferentes abordagens de tratamento e o acompanhamento por um longo tempo são essenciais pra uma recuperação que dure.
Perguntas frequentes
O que vicia mais: cocaína em pó ou crack?
O crack é considerado mais viciante porque a fumaça chega mais rápido ao cérebro, causando um efeito mais forte, mas que dura menos tempo.
Isso cria um ciclo de uso mais frequente e compulsivo. Porém, não pense que a cocaína em pó é “segura” – ela também vicia muito, e os riscos à saúde são igualmente sérios.
Posso ficar viciado em cocaína depois de usar só uma vez?
Embora seja raro desenvolver dependência depois de um único uso, isso não significa que seja impossível. Na real, algumas pessoas relatam uma fissura forte mesmo após a primeira experiência.
E o problema é que nunca dá pra saber antes como seu cérebro vai reagir. Cada organismo responde de um jeito diferente.
O vício em cocaína tem cura?
A dependência química é considerada uma condição crônica, como diabetes ou pressão alta. Não existe uma “cura” no sentido de eliminar completamente o risco de recaída.
O que existe é o controle da condição através de tratamento adequado e mudanças no estilo de vida. Muitas pessoas conseguem ficar sem usar por longos períodos ou por toda a vida.
Posso me tratar sem que ninguém saiba?
Existem opções de tratamento que respeitam a privacidade dos pacientes.
Consultórios particulares, clínicas com atendimento discreto e até terapia online são alternativas pra quem precisa de discrição.
No entanto, é importante entender que contar com o apoio de pelo menos algumas pessoas próximas pode aumentar muito as chances de sucesso no tratamento.
Quanto tempo dura a abstinência de cocaína?
A abstinência aguda geralmente dura de uma a duas semanas, com sintomas como cansaço, depressão, irritabilidade e fissura forte.
Mas existe também a chamada síndrome de abstinência prolongada, que pode durar meses, com sintomas mais leves, mas que persistem, como alterações de humor e vontades ocasionais de usar a droga.
Conclusão
Afinal, como vimos ao longo deste artigo, reconhecer os sinais do vício em cocaína não é fácil – especialmente quando estamos falando da nossa própria situação.
A linha entre o uso recreacional e a dependência pode ser bem fina, e muitas vezes a pessoa atravessa essa fronteira sem nem perceber.
Na minha experiência acompanhando pacientes, aprendi que o vício raramente aparece do nada.
É um processo gradual, que vai avançando quietinho até que os sinais fiquem evidentes demais pra serem ignorados. E mesmo assim, a negação pode continuar sendo um obstáculo forte.
Reconhecer o problema é como acender uma luz no fim do túnel.
Parece assustador no começo, mas é o primeiro e mais importante passo pra recuperação.
E sabe o que é mais bonito nesse processo? Ver como as pessoas podem se transformar quando decidem enfrentar a dependência.
Se você identificou os sinais de dependência em você mesmo ou em alguém próximo, não hesite em buscar ajuda profissional.
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